Manter a (c)alma.

Eu comecei a trabalhar há dois meses. Oficialmente. Dois meses no primeiro emprego, carteira assinada, salário conquistado na base do suor – dois meses dessa experiência louca que é a vida de trabalhadora, que eu até então desconhecia. Só que, menina... É foda. É foda porque são dois meses de negatividade no ar, mesmo que eu esteja cercada por boas pessoas em boa parte do meu dia.

Vejo de tudo. Vejo a tia do padeiro que perdeu o emprego, vejo traficante que conseguiu sair dessa vida, vejo gente sofrendo por amor, vejo gente que tem sérios problemas na vida. Vejo gente atrás do amor e conheço até um casal que se conheceu por causa da minha patroa, estão juntos há seis anos. Vejo gente louca que resolve puxar uma faca do nada e querer matar minha chefe, vejo gente que fica descontente com tudo o que recebe. Vejo gente que fica feliz e satisfeita só de receber um encaminhamento de emprego. Vejo vagabundo preguiçoso e vejo homens que atravessam e derrubam barreiras em nome de sua família.

Mais que isso, eu vejo uma realidade nua e crua de quem sofre. De quem se machuca, de quem é obrigado a implorar por um pedaço de pão.  Gente que ‘tá tomando morfina, gente que tá sofrendo por uma razão que eu sequer consigo entender. E daí te pergunto: como eu faço para manter a fé na humanidade? Eu acredito que as coisas acontecem por uma razão, que “aqui se faz, aqui se paga”, mas com que finalidade alguém com câncer pode literalmente passar fome? Já ouvi um agradecimento de quem só está contente porque os filhos e netos não estão passando fome. Não consigo manter a frieza.

Não consigo evitar de me sentir agradecida por tudo o que tenho, por toda a saúde. É difícil manter a calma, mais que isso é difícil manter a fé em um bando de gente que promete, não cumpre e ainda acha ruim quando a gente cobra.  Por essas e por outras que admiro quem ajuda, quem se importa. Quem mantém o seu “eu” mesmo depois de encarar certas situações.

(Re)Start.

Significado de Recomeçar:
v.t. Começar de novo; refazer depois de interrupção: recomeçar um hobbie.
Retornar a fazer qualquer coisa: recomeçar a ser feliz.
V.i. Começar a ser, a produzir-se novamente: recomeça a chuva.

Eu não sou boa com apresentações. No geral, costumo ser uma pessoa que fala o básico - o meu nome. Mas o meu nome aqui e agora não é tão importante, porque eu posso ser apenas eu  mesma aqui. Eu estou com aquela necessidade de falar. De escrever. De desabafar e de arrancar de dentro do meu "eu interior" o que me incomoda, me angustia. De falar sobre os meus sentimentos, pensamentos. Meus textos, até então escondidos em uma gaveta ao lado de uma mesa finalmente vão começar a ser revelados. Talvez não para um mundo inteiro - eu não quero ninguém lendo qualquer coisa minha por obrigação. Não há página no facebook, não há twitter. Não há qualquer pretensão de sair espalhando para qualquer pessoa o que penso e sinto.

Isso porque, basicamente,  estou aqui me despindo em frente a olhares de desconhecidos, e eu não sei o quê esses desconhecidos (e possivelmente não tão desconhecidos) irão pensar. E eu não saber a reação desses "estranhos" perante a minha própria vida é algo assustador e empolgante. Acho que todo mundo precisa se arriscar uma vez na vida, fazer o que nunca achou que faria. No meu caso, dividir comigo mesma minhas sensações, meus desejos, minha vida. Abrindo a porta, de coração escancarado aos recém-chegados. Limpe os pés antes de entrar, e sinta-se muito bem vindo, porque o meu universo pessoal é a minha mente. Jurei que faria 2014 ser um ano diferente, que seria mais (bem mais) determinada. De uma forma ou de outra, deixar para fazer em agosto o que que queria ter feito em janeiro é algo que me incomoda, mas antes tarde do que nunca - e mesmo agosto sendo o mês do desgosto... Eu espero que ele simbolize ao menos uma coisinha especial para, quando olhar para trás, sentir que valeu a pena.

Acredito fielmente que estou vivenciando mais uma situação de lição do que qualquer outra coisa. Como diz Hans C. Andersen, "quando as palavras falham, a música fala"; talvez por tanto estar conectada à música, justamente isso o que  me moveu a fazer questões que, em sua maioria, ficaram sem respostas. Me perguntei quando exatamente eu deixei de ter ânimo com as coisas que amo, que desejo, que adoro. Quando deixei de me sentir confortável ao escrever uma resenha, de imaginar os personagens, de escrever, de desabafar? Quando parei de me interessar por aquelas coisas, mesmo que pequenas, que me faziam tão feliz? Quando as coisas se tornaram um peso, não uma verdadeira cura? Porque, até então, fazer tudo isso me deixava leve, tanto quanto uma pluma. A resposta veio como um tiro certeiro no alvo: quando eu comecei a acreditar que o que eu estava fazendo era uma obrigação. Creio, claro, que ver o problema é o primeiro passo para a solução total. Pensando de um ângulo um pouco mais sério e menos egoísta, compreendo os motivos a ter sido parcialmente abandonada. Não significaque eu consiga aceitar tão facilmente.

Resolvi tentar. Mais uma vez. Nem que seja para novamente remar que nem uma condenada e morrer na praia. O mar é grande, o caminho também vai ser. Penso que parte disso tenha sido em parte porque eu enxergava a solução, há muito, na frente dos meus olhos; contudo, me parece que (já) está na hora de trocar as lentes dos óculos, porque não enxerguei. Ou não quis ver. Estou mais inclinada a acreditar que tenha sido a última alternativa. É mais fácil fechar os olhos; é mais fácil fingir que ela não é aquele pilar principal que carrega tudo, mas que é um mero detalhe que pode ser "facilmente ignorado". Nunca acreditei  muito que tenho tempo para sentir melancolia... Agora, porém, cá estou desabafando palavras que eu achei que dificilmente seriam faladas (digitadas, que seja).

Eu novamente retorno. Afinal, "o bom filho a casa torna". Cansei dos meus próprios "achismos". Estou com vontade de falar eu sei e eu quero. Chega de pensar em como as coisas deveriam ser e como elas realmente são. Sacudir a poeira, erguer a cabeça e ignorar o que me faz mal. É isso o que todo mundo deveria fazer,  não?

Falta.

Assim que o despertador anunciou o horário marcado, as cobertas se movimentaram e revelaram o corpo da mulher. Era difícil, depois de uma noite mal dormida, acordar tão cedo. Mas se queria passar pelo processo de todo de dia, de fazer o café, até aquilo valia  a pena. Por mais que quisesse o café, no entanto, ficou matando tempo sobre os cobertores, bocejando algumas vezes e até mesmo espreguiçando-se. Olhou novamente no relógio, pensativa. E em seguida, para o lado. Maior arrependimento. Virar-se e não vê-lo ali. Sim, porque ele estava distante demais. E muito mais de uma vez ela se pegava abraçando o travesseiro e desejando com todas as forças possíveis e imagináveis que fosse ele. E apenas ele. E se fosse ele que estivesse ali? Ela iria abraçá-lo da forma mais gentil possível, e ficaria o observando. Poderia ficar o dia inteiro ali com ele, fosse espiando ele dormir, rolando na cama, simplesmente jogando conversa fora ou ‘apenas’ sentindo o corpo dele. Mais de uma vez ficava se imaginando junto a ele, e a cada novo pensamento que tinha, a vontade de tê-lo era maior. Acabou abrindo um sorriso; quem diria que alguém fosse deixá-la daquela maneira? Era loucura, bem sabia. Mas aquela loucura em especial lhe parecia muito, muito mais válida do que tantas outras. Justamente porque era ele.


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